No dia 20 de janeiro, o republicano Donald Trump assumiu novamente a presidência dos Estados Unidos. Em seu primeiro discurso de posse, ele anunciou diversas medidas e prometeu mudanças significativas nas políticas internas e externas do governo. Tais propostas geraram preocupação global, e no Brasil, isso não foi diferente, já que o país mantém vários acordos comerciais com os EUA, e um possível atrito entre as duas nações poderia impactar diretamente a balança comercial, especialmente no que se refere à exportação de commodities agrícolas.
Diante desse cenário, é importante analisar as possíveis consequências separadamente. Um dos pontos mais relevantes é a possibilidade de uma guerra comercial entre os EUA e a China, e seus possíveis efeitos sobre a agricultura brasileira. Para ilustrar, em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, houve uma série de tarifas sobre a soja, o que tornou a oleaginosa americana mais cara para os importadores chineses. Como resultado, o Brasil e a Argentina passaram a ser as alternativas preferenciais para os chineses.
Naquela época, os preços da soja brasileira estavam cerca de três dólares por bushel mais caros do que nos EUA. Considerando a cotação atual, isso representaria uma diferença de quase R$ 30 por saca, o que afeta diretamente a competitividade do produto brasileiro. Embora essa situação tenha ocorrido apenas no mercado de soja, a tendência é que continue. Contudo, uma novidade nesse processo é o papel crescente do Brasil como fornecedor de milho. A partir de 2021, a China abriu armazéns e portos no Brasil para aumentar as importações de milho, consolidando o país como um importante produtor e exportador do grão.
Análise do cenário atual e futuro
Se, por um lado, a força do dólar tende a desvalorizar outras moedas ao redor do mundo, por outro, ela torna as exportações brasileiras mais competitivas. A previsão atual é que o dólar permaneça em torno de R$ 6, oscilando levemente para mais ou para menos.
Outro fator importante a ser observado é que as políticas econômicas adotadas pelo governo Trump podem ser mais inflacionárias do que as do passado. Isso pode significar um aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos, o que, por sua vez, tende a enfraquecer o real no Brasil. Além disso, a continuidade dessa política de juros elevados nos EUA dificulta a possibilidade de um alívio monetário aqui no Brasil.
Com isso, a expectativa é que, no curto prazo, os juros para o setor agrícola se mantenham elevados. Com a Selic próxima de 14%, o custo financeiro do produtor rural tende a aumentar. As taxas de juros para a classe produtora, entre 15% e 20%, têm se mostrado bastante altas, o que representa um desafio significativo para a agricultura brasileira em 2025 e 2026.
Desafios e oportunidades
Com a valorização do dólar, o produtor brasileiro tem mais incentivo para exportar, mas, por outro lado, o aumento da moeda americana dificulta a compra de insumos no mercado internacional. Fertilizantes e defensivos devem sofrer aumento de preço, principalmente devido à alta do câmbio nos últimos meses, o que impactará a precificação desses produtos em 2025.
O maior desafio para os produtores, no entanto, é o custo financeiro. Aqueles que ainda possuem dívidas de safras anteriores precisam ficar atentos, pois, caso ocorra algum estresse climático, podem se ver em dificuldades financeiras. Em termos de oportunidades, o dólar cotado a R$ 6 mantém os preços das commodities brasileiras no mercado internacional.
Em resumo, olhando para 2025 de uma forma otimista, é possível esperar preços mais favoráveis do que em 2024. O Brasil tem uma geopolítica alimentar consolidada, e nossa posição como fornecedor de produtos agrícolas para o mundo, e não apenas para os Estados Unidos, nos garante certa segurança frente aos possíveis desdobramentos políticos. Embora o produtor enfrente grandes desafios, com organização e planejamento, ele poderá também aproveitar as oportunidades que surgirem.
Enilson Nogueira
Engenheiro agrônomo e analista de mercado da Céleres Consultoria
Fonte: Kassiana Bonissoni