Um estudo da Embrapa acende um sinal de alerta para a agricultura brasileira: quase metade das doenças que afetam lavouras no país pode se tornar mais severa até o fim do século devido às mudanças climáticas. A previsão é resultado de uma ampla análise científica que avaliou 304 interações entre culturas e patógenos em 32 das principais lavouras nacionais, como arroz, milho, soja, café, cana-de-açúcar, frutas e hortaliças.
O aumento da temperatura e as alterações no regime de chuvas criam condições ideais para a proliferação de doenças, principalmente as causadas por fungos — que representam 80% dos casos analisados. Problemas como antracnose e oídio, por exemplo, tendem a se intensificar em cenários com mais calor e umidade.
Além dos fungos, doenças transmitidas por vetores como moscas-brancas, ácaros e pulgões também devem aumentar. Isso ocorre porque o ciclo de vida desses insetos se acelera com o calor, prolongando sua atividade e elevando o risco para diversas culturas.
Outro fator preocupante é que o novo clima pode comprometer a eficácia dos defensivos agrícolas, exigindo mais aplicações, o que eleva os custos de produção e os impactos ambientais. Como resposta, cresce a busca por soluções mais sustentáveis, como os biopesticidas. O Brasil já lidera o mercado mundial de controle biológico, mas, segundo os pesquisadores, será necessário adaptar esses produtos às novas condições climáticas.
Diante desse cenário, a Embrapa defende medidas emergenciais, como o aumento de investimentos em pesquisa, o fortalecimento dos sistemas de vigilância fitossanitária, o incentivo à inovação em bioinsumos e a criação de políticas públicas eficazes. A adaptação às mudanças climáticas, afirmam os cientistas, deve ser um esforço conjunto entre governo, produtores, empresas e centros de pesquisa.
Apesar dos desafios, o estudo conclui que o Brasil tem potencial para liderar uma transformação no manejo agrícola, assegurando a segurança alimentar mesmo diante de um cenário climático mais hostil.